Mia Couto

Mia Couto, nascido António Emílio Leite Couto em 05 de julho de 1955, na cidade de Beira, província de Sofala, Moçambique, atualmente com 55 anos, é um escritor filho de portugueses que emigraram a Moçambique nos meados do século XX. Em 1985 formou-se em Biologia pela Universidade Eduardo Mondlane, especializando-se na área de Ecologia. Utiliza-se de características do gênero literário do realismo mágico na ficção histórica. É sócio correspondente, eleito em 1998, da Academia Brasileira de Letras, sendo sexto ocupante da cadeira 5, que tem por patrono Dom Francisco de Sousa.


É professor da cadeira de Ecologia em diversas Faculdades da UEM - Universidade Eduardo Mondlane. É o único escritor africano que é membro da Academia Brasileira de Letras. É hoje o autor moçambicano mais traduzido e divulgado no estrangeiro e um dos autores estrangeiros mais vendidos em Portugal (com mais de 400 mil exemplares) (http://draft.blogger.com/page-edit.do?blogID=5921811591199135819&pageID=8916696023151204993

Algumas de suas influências são Carlos de Drummond de Andrade, Eugénio de Andrade, Sofia de Mello Breyner, João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa, José Luandino Vieira.


Com catorze anos de idade, teve alguns poemas publicados no jornal Notícias da Beira e três anos depois, em 1971, mudou-se à cidade capital de Lourenço Marques (agora Maputo). Iniciou os estudos universitários em medicina, mas abandonou esta área no princípio do terceiro ano, passando a exercer a profissão de jornalista depois do 25 de Abril de 1974. Trabalhou na Tribuna até à destruição das suas instalações pelos colonos em Setembro de 1975. Foi nomeado diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM) [de 1976 a 1979] e formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo da guerra de libertação. A seguir trabalhou como diretor da revista Tempo [de 1979] até 1981 e continuou a carreira no jornal Notícias [de 1981] até 1985. Em 1983 publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho, que inclui poemas contra a propaganda marxista militante. Dois anos depois demitiu-se da posição de diretor para continuar os estudos universitários na área de biologia (Wikipédia, a enciclopédia livre).

É considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique. Por isso mesmo “muitos dos livros de Mia Couto foram publicados em mais de 22 países e traduzidos em alemão, holandês, sueco, norueguês, francês, espanhol, catalão, inglês e italiano”.


Terra Sonâmbula, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué. [...] Presentemente é empregado como biólogo no Parque Transfronteiriço do Limpopo (idem).

Isso faz de Mia Couto um dos maiores escritores da Africa, engrandecendo um continente que sofre com o racismo e desvalorização.

 

Prêmios

  • 1999 - Prémio Vergílio Ferreira, pelo conjunto da sua obra;
  • 2001 - Prémio Mário António, pelo livro O último voo do flamingo;
  • 2007 - Prémio União Latina de Literaturas Românicas;
  • 2007 - Prêmio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura, na Jornada Nacional de Literatura.


Mia Couto é aquilo que entendo por 'escritor da terra'. Precisamente porque, na sua expressão absolutamente única, originalíssima, escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a própria natureza humana na sua relação umbilical com a terra.
A sua linguagem extremamente rica e muito fértil em neologismos confere-lhe um atributo de singular percepção e interpretação da beleza interna das coisas (http://draft.blogger.com/page-edit.do?blogID=5921811591199135819&pageID=8916696023151204993).


Devido à mistura entre ficção e realidade que Couto faz em sua obra ele acaba sendo visto como esse escritor da terra no intuito da valorização.

Poesia

Couto possui também volumes poéticos como Raiz de Orvalho, publicado em 1983. “Em 1999, a Editorial Caminho (que publica as obras de Couto em Portugal) relançou Raiz de Orvalho e outros poemas que teve sua 3ª edição em 2001”.

Destino

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos
vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso
conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso
agora
que mais
me poderei vencer?
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Solidão
 
Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso
Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio
É então que surges

com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou

Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna
Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poema

Horário do Fim
 

morre-se nada
quando chega a vez
é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos
morre-se tudo
quando não é o justo momento
e não é nunca
esse momento
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"


Por: Jocinara Souza Ramos