Agostinho Neto


Nasceu a 17 de Setembro de 1922, na aldeia de Kaxicane, região de Icolo e Bengo, a cerca de 60 km de Luanda.

Estudou em Coimbra e em Lisboa com uma bolsa de estudos da Igreja Metodista Americana.
Agostinho Neto esteve sempre envolvido em atividades políticas e foi preso pela primeira vez em 1951, quando reunia assinaturas para a Conferência Mundial da Paz em Estocolmo.

Em 30 de dezembro de 1959, Agostinho Neto retornou à Angola com a mulher Maria Eugênia e o filho pequeno. Tornou-se lider do MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola) e nas horas vagas exercia a medicina.

Agostinho Neto regressou à Luanda no dia 4 de Fevereiro de 1975, sendo alvo da maior manifestação popular já vista em Angola. Passou a dirigir pessoalmente todas as ações a favor da independência de Angola, proclamando uma resistência popular generalizada e em 11 de novembro de 1975, Agostinho Neto proclamou a o independência Nacional da República Popular de Angola.

Obra

Sua obra poética pode ser encontrada em quatro livros principais, que ainda não têm edições brasileiras: Quatro Poemas de Agostinho Neto (1957), Poemas (1961), Sagrada Esperança (de 1974 que inclui os poemas dos dois primeiros livros) e a obra póstuma A Renúncia Impossível (1982).

Para conhecer a literatura angolana, é preciso conhecer a poesia de Agostinho Neto.

A poesia de Agostinho Neto é uma poesia engajada que apresenta as imagens poéticas das vivências do homem angolano. Mas ele não fala só do passado e do presente, mas também da busca, da preparação do futuro.

                               Amanhã

entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
Nós vamos em busca de luz
Os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.
("Adeus à hora da largada" do livro Sagrada Esperança)


Poesias

A poesia de Agostinho Neto fala da necessidade de lutar, de sonhar, de lutar pela independência. É preciso lutar por uma nova Angola, reconquistar a identidade angolana apesar da presença do colonizador.
Civilização ocidental


Latas pregadas em paus
fixados na terra
fazem a casa

Os farrapos completam
a paisagem íntima


O sol atravessando as frestas
acorda o seu habitante

Depois as doze horas de trabalho
Escravo

Britar pedra
acarretar pedra
britar pedra
acarretar pedra
ao sol
à chuva
britar pedra
acarretar pedra






A velhice vem cedo
Uma esteira nas noites escuras
basta para ele morrer
grato
e de fome.  




Noite


Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.


Voz do sangue

Palpitam-me
os sons do batuque
e os ritmos melancólicos do blue

Ó negro esfarrapado do Harlem
ó dançarino de Chicago
ó negro servidor do South

Ó negro de África

negros de todo o mundo

eu junto ao vosso canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.

Eu vos acompanho
pelas  emaranhadas áfricas
do nosso Rumo

Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a vossa Dor
meus irmãos.












Por: Valcineide Gomes de Oliveira