Luís Vaz de Camões


Falar da poesia portuguesa e não mencionar o nome do célebre poeta Camões é cometer injustiça irreparável com a história da literatura e da poesia de Portugal e, por que não dizer, do mundo. Afinal, são inúmeros os seus escritos e as histórias que rodam o mundo sobre a obra camoniana, o que já denota logo de início que se trata de um gênio da poesia.

Resumir um pouco de sua obra constitui um desafio, pois se torna muito difícil sintetizar um número tão grande de poemas e de parte da personalidade marcante desse herói português. Mas, é importante que se conheça um pouco da genialidade de Luís Vaz de Camões, posto que a poesia brasileira bebeu e ainda bebe nas fontes portuguesas.


A riqueza cultural portuguesa deve grande parte de seu legado a esse herói, que em vida se queixava de não ter sido reconhecido pelo seu país. Nesse sentido, postam-se a seguir um pouco da biografia, das obras e principalmente da poesia camonianas.

    Biografia resumida:

Luís Vaz de Camões teria supostamente nascido em Lisboa, por volta de 1524, pertencendo a uma família da pequena nobreza. Boa parte das informações sobre a biografia de Camões suscitam dúvidas e, provavelmente, muito do que sobre ele circula não é mais que o típico folclore que se forma em torno de uma figura celebrada. São documentadas apenas umas poucas datas que balizam a sua trajetória. A Casa ancestral dos Camões tinha suas origens na Galiza, não longe do Cabo Finisterra.

Por via paterna, Luís de Camões seria descendente de Vasco Pires de Camões, trovador galego, guerreiro e fidalgo, que se mudou para Portugal em 1370 e recebeu do rei grandes benefícios em cargos, honras e terras, e cujas poesias, de índole nacionalista, contribuíram para afastar a influência bretã e italiana e conformar um estilo trovadoresco nacional. Seu filho Antão Vaz de Camões serviu no Mar Vermelho e casou-se com Dona Guiomar da Gama, aparentada de Vasco da Gama. Deste casamento nasceram Simão Vaz de Camões, que serviu na Marinha Real e fez comércio na Guiné e na Índia, e outro irmão, Bento, que seguiu a carreira das Letras e do sacerdócio, ingressando no Mosteiro de Santa Cruz dos Agostinhos, que era uma prestigiada escola para muitos jovens fidalgos portugueses. Simão casou com Dona Ana de Sá e Macedo, também de família fidalga, oriunda de Santarém. Seu filho único, Luís Vaz de Camões, segundo Jayne, Fernandes e alguns outros autores, terá nascido em Lisboa, em 1524. Três anos depois, estando a cidade ameaçada pela peste, a família se mudou, acompanhando a corte, para Coimbra. Entretanto, outras cidades reivindicam a honra de ser o seu berço: Coimbra, Santarém e Alenquer.



Os argumentos para tirar a sua naturalidade de Lisboa são fracos; mas esta tampouco está completamente fora de dúvida, e por isso a crítica mais recente considera seu local e data de nascimento incertos.Segundo alguns teóricos, quando ainda era jovem recebeu sólida educação inspirada nos moldes clássicos, dominando o idioma latino, possuía conhecimentos sobre a literatura e história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas sua passagem pela escola não é documentada. Freqüentou os mais requintados ambientes como a corte de Dom João III, onde iniciou sua carreira como poeta lírico e, envolveu-se nas mais variadas aventuras amorosas com as damas da nobreza. Contam que por causa de uma frustração amorosa Camões se autoexilou na África, tendo se alistado como militar, onde perdeu um olho numa batalha violenta.

Quando retornou a Portugal feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Lá passou vários anos e enfrentou adversidades, tendo sido preso diversas vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu sua obra mais importante “Os Lusíadas”. Apesar de muito fazer pelo seu país, Camões se queixava de não ter suas obras reconhecidas, dizem que isso não agradava à corte e, em uma de suas viagens em alto-mar acabou naufragando ao lado de sua amada, mas conseguiu salvar a si e à sua obra “Os Lusíadas”, deixando sua amada perecer. Faleceu em Lisboa, em 10 de junho de 1580.

Sua obra:

A obra camoniana é referência para toda a comunidade lusófona internacional e é considerada como grande renovadora da literatura portuguesa. A produção de Camões divide-se em três gêneros: o lírico, o épico e o teatral. A obra lírica de Camões, dispersa em manuscritos, foi reunida e publicada postumamente em 1595 com o título de Rimas. Ao longo do século XVII, o crescente prestígio do seu épico contribuiu para elevar ainda mais o apreço por estas outras poesias.

A coletânea compreende redondilhas, odes, glosas, cantigas, voltas ou variações, sextilhas, sonetos, elegias, écoglas e outras estâncias pequenas. Sua poesia lírica procede de várias fontes distintas: os sonetos seguem em geral o estilo italiano derivado de Petrarca, as canções tomaram o modelo de Petrarca e de Pietro Bembo. Nas odes se verifica a influência da poesia trovadoresca de cavalaria e da poesia clássica, mas com um estilo mais refinado; nas sextilhas aparece clara a influência provençal; nas redondilhas expandiu a forma, aprofundou o lirismo e introduziu uma temática, trabalhada em antíteses e paradoxos, desconhecida na antiga tradição das cantigas de amigo, e as elegias são bastante classicistas. Suas estâncias seguem um estilo epistolar, com temas moralizantes.

A écoglas são peças perfeitas do gênero pastoral, derivado de Virgílio e dos italianos. Em muitos pontos de sua lírica também foi detectada a influência da poesia espanhola de Garcilaso de la Vega, Jorge de Montemor, Juan Boscán, Gregorio Silvestre e vários outros nomes, conforme apontou seu comentador Faria e Sousa. Sua produção épica está sintetizada n’Os Lusíadas, uma alentada glorificação dos feitos portugueses, não apenas suas vitórias militares, mas também a conquista sobre os elementos e o espaço físico, com recorrente uso de alegorias clássicas. Em suas obras dramáticas procurou fundir elementos nacionalistas e clássicos. A sua produção neste campo se resume em três obras, todas no gênero da comédia e no formato de auto: El-Rei Seleuco, Filodemo e Anfitriões.

Algumas Poesias:

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode ser seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor.



A chaga que, Senhora, me fizestes

A chaga que, Senhora, me fizestes,
não foi pera curar-se em um só dia;
porque crescendo vai com tal porfia
que bem descobre o intento que tivestes.

De causar tanta dor vos não doestes.
Mas, a doer-vos, dor me não seria,
pois já com esperança me veria
do que vós que em mim visse não quisestes.

Os olhos com que todo me roubastes
foram causa do mal que vou passando;
e vós estais fingindo o não causastes.

Mas eu me vingarei. E sabeis quando?
Quando vos vir queixar porque deixastes
ir-se a minha alma neles abrasando.

A violeta mais bela que amanhece
A violeta mais bela que amanhece
no vale, por esmalte da verdura,
com seu pálido lustre e fermosura,
por mais bela, Violante, te obedece.
Perguntas-me porquê? Porque aparece
seu nome em ti e sua cor mais pura;
e estudar em [teu] rosto só procura
tudo quanto em beldade mais florece.

Oh! luminosa flor, oh! Sol mais claro,
único roubador de meu sentido,
não permitas que Amor me seja avaro!

Oh! penetrante seta de Cupido,
que queres? Que te peça, por eparo,
ser, neste vale, Eneias desta Dido?

Amor, que o gesto humano n' alma escreve
Amor, que o gesto humano n' alma escreve,
vivas faíscas me mostrou um dia,
donde um puro cristal se derretia
por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
por se certificar do que ali via,
foi convertida em fonte, que fazia
a dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
causa o primeiro efeito; o pensamento
endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera num momento,
de lágrimas de honesta piedade,
lágrimas de imortal contentamento.



                                                                            Q

Qual tem a borboleta por costume
Quando a suprema dor muito me aperta
Quando cuido no tempo que, contente
Quando da bela vista e doce riso
Quando de minhas mágoas a comprida
Quando o Sol encoberto vai mostrando
Quando se vir com água o fogo arder
Quando vejo que meu destino ordena
Quando, Senhora, quis Amor que amasse
Quanta incerta esperança, quanto engano!
Quantas vezes do fuso se esquecia
Que gritos são os que ouço? – De tristeza
Que levas, cruel Morte? Um claro dia
Que me quereis, perpétuas saudades?
Que modo tão sutil da Natureza
Que pode já fazer minha ventura
Que poderei do mundo já querer
Quem diz que Amor é falso ou enganoso
Quem fosse acompanhando juntamente
Quem pode livre ser, gentil Senhora
Quem presumir, Senhora, de louvar-vos
Quem pudera julgar de vós, Senhora
Quem quiser ver d' Amor üa excelência
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
Quem vos levou de mi, saudoso estado


Considerações Finais: A obra do poeta Luís Vaz de Camões ultrapassa os limites da compreensão leiga e supõe uma inteligibilidade tremenda. É um compositor de poesias incomparável, suas obras são capazes de tocar a alma, envolvê-la em aventuras tanto amorosas quanto épicas. Conhecer Camões é necessário para que se perceba como a poesia brasileira herdou muito do estilo camoniano, as redondilhas maiores e menores, a métrica perfeita o lirismo e tantas outras características desse gênio da poesia!












Por: Giselle Lima